quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A pintora e as estações ou à espera das cinzas

Ilustração: sheispretty
http://sheispretty.deviantart.com/
Não sei em que vias me perdi, mas sem notar fui arrastada junto às folhas daquele outono e repousei onde flores aguardavam a primavera.
Na primavera me perdi...
Fortes cores e aromas entorpecentes igualmente coloridos misturaram-se em minha mente, alteraram minha visão...
Pensei enfim ter encontrado o quadro ideal: a diferença das cores e perfumes formavam para mim a harmonia perfeita, seria lá que estabaleceria de vez a harmonia que procurava em minhas obras. (Na verdade a paz e harmonia que procurava em meus sentimentos).
Porém, como já previsto, às estações deveriam mudar...
É verão, pessoas vão à praia, namorados saem para tomar sorvete, cães passeiam com seus donos e eu vejo meu jardim morrer. Todo um espetáculo de cores queimaram com o fogo de um verão que veio impiedoso. Troquei a palheta e recolhi algumas das pétalas queimadas. Minha pintura agora carregava flores mortas e um aroma acinzentado.
E o que sobra do fogo?
O frio... a saudade...
O inverno refrescara minha mente. Descansei e repousei o azul silencioso e um aroma gélido à minha tela. Silêncio... Solidão... E o sono-do-não-sonhar-e-se-possível-não-lembrar...
Renovação do corpo e da alma... Renascimento... À cada estação uma de mim renovada. Será que me encontro ou me perco?
Espero numa espécie de ânsia e temor os novos ventos que me levarão daqui, os novos jardins e as novas queimadas que o inverno se encarregará de espalhar as cinzas...
A artista nunca queima junto à flor preferida... os artistas em geral ficam para contar a história

S.S.O 12/12/2007

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