segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Bonequinha quebrada

Billy E. Barnes. Broken doll lying on the ground. 1966.
fonte: http://www.lib.unc.edu/dc/barnes/?CISOROOT=/barnes
-Olhe para eles presos em seu mundo de plástico e eu aqui fingindo ter pernas.
Se viro a cabeça e olho para qualquer lado como posso saber estar olhando para o lado correto?
Oh meu Deus! Será que já está tudo direcionado?
Aonde aquela estrada me levar será mesmo mais real?
Não me importa ser comum para a maioria, eu quero andar de bicicleta no ar como em meus sonhos sem precisar de alimento além do qual alimenta minha alma. Por quê estou sempre me adaptando? Eu não quero mais... Quero mergulhar na minha insanidade que para mim é muito mais sana e natural para qualquer ser humano. Quero conhecer o outro lado... Quero usar todos os lados do meu cérebro... quero usar meu próprio cérebro...

-Nossa! que absurdo!(gritaram alguns moralistas, mas tudo que se ouviu foi um estrondoso e ensurdecedor silêncio)

-Ahhh! Que maravilha! Não posso mais ouví-los. Sei que falam, mas suas imagens se transfiguram a todo tempo em minha mente, receio com certa curiosidade conhecer-lhes o verdadeiro lado. Me pegaram! Isso... levem-me daqui.. me façam voar!
-Essa aqui pirou de vez, vai para onde deveria estar à muito tempo: O Manicômio!

E foi, levada por estranhos que não poderiam mais controlá-la, era um brinquedo antigo e defeituoso. Foi para o lugar onde todos os brinquedos quebrados vão. Seus pedaços não mais interessavam para nada, seus braços arranhados e seu corpo agora estranho não serviria em um brinquedo nos novos padrões de estética e qualidade. Sua voz aguda e sua fala persistente já não significavam nada.
Mas ela foi para o Manicômio sem saber para onde estava indo. Ela não via mais o mundo deles e também não vivia mais nele. Enfim ela se libertara; o Manicômio para ela simplesmente nunca existiu... Viveu e viveu eternamente em seu mundo real.


fonte da imagem: http://omekoijiro-paradise.cocolog-nifty.com/

S.S.O 31/12/2007

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A pintora e as estações ou à espera das cinzas

Ilustração: sheispretty
http://sheispretty.deviantart.com/
Não sei em que vias me perdi, mas sem notar fui arrastada junto às folhas daquele outono e repousei onde flores aguardavam a primavera.
Na primavera me perdi...
Fortes cores e aromas entorpecentes igualmente coloridos misturaram-se em minha mente, alteraram minha visão...
Pensei enfim ter encontrado o quadro ideal: a diferença das cores e perfumes formavam para mim a harmonia perfeita, seria lá que estabaleceria de vez a harmonia que procurava em minhas obras. (Na verdade a paz e harmonia que procurava em meus sentimentos).
Porém, como já previsto, às estações deveriam mudar...
É verão, pessoas vão à praia, namorados saem para tomar sorvete, cães passeiam com seus donos e eu vejo meu jardim morrer. Todo um espetáculo de cores queimaram com o fogo de um verão que veio impiedoso. Troquei a palheta e recolhi algumas das pétalas queimadas. Minha pintura agora carregava flores mortas e um aroma acinzentado.
E o que sobra do fogo?
O frio... a saudade...
O inverno refrescara minha mente. Descansei e repousei o azul silencioso e um aroma gélido à minha tela. Silêncio... Solidão... E o sono-do-não-sonhar-e-se-possível-não-lembrar...
Renovação do corpo e da alma... Renascimento... À cada estação uma de mim renovada. Será que me encontro ou me perco?
Espero numa espécie de ânsia e temor os novos ventos que me levarão daqui, os novos jardins e as novas queimadas que o inverno se encarregará de espalhar as cinzas...
A artista nunca queima junto à flor preferida... os artistas em geral ficam para contar a história

S.S.O 12/12/2007